top of page

Banda de forró de mulheres canta contra machismo

A Chinelo de Couro ajuda a espalhar o forró feminino pela capital


Por Maria Regina Mouta

Foto: Thais Mallon


O forró foi o ritmo escolhido por quatro amigas descendentes de nordestinos para criar a banda de forró brasiliense “Chinelo de Couro”, há sete anos. Hoje o grupo é composto por Julia Carvalho (vocal e percussão), Letícia Fialho (vocal, cavaquinho e violão), e Shaira Ribeiro (vocal e percussão). As três mulheres, também compositoras, são filhas da capital, mas com sotaque nordestino na arte. Além do sotaque, empoderamento.


Ela contextualiza que o ambiente do forró em si trata as mulheres, em muitas músicas, de forma machista. “Então, acredito que a formação também mostra ser capaz que um grupo de forró não deve cantar a mulher como objetificação, sexualidade e romance, apenas. Em nosso repertório cuidamos muito disso.’’


Para Shaira, o cenário musical e artístico ainda é um ambiente muito masculino. “Não tínhamos essa intenção tão consciente no começo, mas depois isso ganhou força. Acredito que a formação do grupo tenha incentivado outras mulheres a se entregarem tanto quanto nós, para a música. Com coragem, com conceito, com dedicação’’.


Origens


A cantora e percussionista Shaira Ribeiro lembra que o grupo escolheu o forró por causa das raízes delas. Juntaram o gosto com o apelo do público. ‘’Também porque fazia dançar e gostávamos muito de tocar para festas. Comercialmente, o forró era mais procurado e éramos jovens artistas começando suas carreiras. Mas tocamos outros ritmos como o coco, ijexá, boi, entre outros’’, afirma Shaira.


Foi a rabequeira Maísa Arantes (que não está mais no grupo) que criou o nome “Chinelo de couro” que possuia outra formação. Mas, certo dia Maísa convidou outras compositoras para tocar e fazer uma primeira apresentação na Chapada dos Veadeiros, reunindo as quatro mulheres, originais desde o início. A partir disso, começaram a ser convidadas para tocar em eventos e a fazer um forró "fixo" as quartas feiras no antigo Balaio Café (Asa Norte), onde tocaram por algum tempo.


Shaira explica que todas as integrantes do grupo têm ligação forte com a cultura nordestina. “Acredito que tenhamos todas avós ou parentescos diretos com alguma região do Nordeste do Brasil. Eu, (Shaira), tenho família na Bahia. Minha avó materna é do Recôncavo Baiano. Está no sangue e na história da nossa cidade. Nordestinos construíram essa cidade. E sua manifestação cultural ainda é muito pulsante - herança de quem veio para tentar a vida na Capital”. Outra característica é o olhar para a periferia e para espaços diferentes de salões. “A Chinelo de Couro já fez alguns trabalhos nos lares dos velhinhos, na Casa do Cantador na Ceilândia e em outros. Temos uma vivência com a cultura que se faz, não só no Plano Piloto, mas em RAs do estado.”


Shaira, uma das integrantes do grupo, conta que a ideia de formar a banda surgiu há 7 anos. “Éramos mais novas e estávamos, cada uma, em seu contato com a cultura popular através de grupos como Seu Zé do Pife e as Jovelinas, Seu Estrelo e em suas pesquisas pessoais. Já desenvolvemos esse valor aos mestres da cultura desde antes. Cada uma de nós tinha seus trabalhos bem no início e nos juntamos simplesmente para fazer música.’’



Foto: Thais Mallon


Ao longo da trajetória da banda, a Chinelo de Couro ganhou dois prêmios importantes: o Festival Universitário de Música (FINCA) e o Primeiro Festival de Forró-pé-serra da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal do DF (APCEF/DF). Além disso, também por dois anos seguidos, participaram no Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em São Jorge (GO), e em 2013 esteve no Festival de Rabecas de Bom Jesus (PI) e na Marcha Mundial das Mulheres (SP).


A rabeca como novidade


A característica principal do grupo é a substituição da sanfona, muito usada nos palcos do forró tradicional, pela rabeca. No repertório, forró, coco, ciranda, maracatu e outros ritmos. Elas se inspiram em nomes da música tradicional do Nordeste como Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Os Três do Nordeste e até de bandas de rock pernambucanas como Ave Sangria e Perfume Azul do Sol.


Juntas desde 2013, a Chinelo de Couro lançou seu primeiro disco em agosto de 2016. Na época, o trabalho foi lançado com o auxílio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), com 12 faixas entre releituras de músicas da cultura nacional nordestina e autorais do grupo.


De olho em 2021


Sobre a pandemia, que acabou por obrigar artistas a cancelar shows e eventos por todo país, a vocalista e percussionista explica que todas estão internamente revendo o “fazer artístico”. Como o grupo se apresenta em eventos que provocam aglomeração, por causa do isolamento social obrigatório, não fizeram nenhuma apresentação, nem mesmo on-line, durante praticamente o ano inteiro.



Foto: Thais Mallon


“Então, estamos prezando por trabalhar internamente, reconfigurando algumas coisas e dando um tempo para planejar. Mas temos eventos marcados para o meio do ano que vem, se o quadro melhorar”, completa.


Acerca de planos e sonhos para o próximo ano, Shaira afirma que estão aproveitando a pausa para pensar novos elementos e propor novas sonoridades. “Queremos compor algumas músicas novas a partir da experiência que estamos tendo. A ideia é planejar mais os trabalhos”. Assim, ficamos com a expectativa de novas canções para o arrastapé de 2021!


Confira aqui uma das performances da banda Chinelo de Couro:




bottom of page