Entenda como uma quadrilha junina na Samambaia fez da criatividade uma nova festa virtual
Por Beatriz Souza
As roupas coloridas e brilhantes, a narração inconfundível e vibrante do marcador que conduz o ritmo e passos da dança. Tudo isso, passou a ser realidade também na era virtual. A ideia veio de Cladeuci Martins, 42, apaixonado por quadrilha e líder do grupo “Si Bobear, a gente pimba”. A quadrilha, que estava com todo gás, foi campeã no ano de 2019 na Competição Nacional de Quadrilhas Juninas, representando a região Administrativa de Samambaia. O grupo não quis deixar de levar alegria nem de homenagear Santo Antônio, o santo casamenteiro. Afinal a quadrilha é a realização da festa de casamento meramente caipira. Foram diferentes estratégias: pela internet, a distância para os vizinhos do prédio, por drive in e, em solidariedade para pessoas em situação de rua. A sanfona não parou , e o forró continuou.
O recomeço
Com um computador e um espaço parcialmente vazio em casa, Cladeuci fez as coreografias ali mesmo. Com intuito de não desanimar, brincou: “A internet caiu! É, mentira!”. Aos poucos a decoração também foi se destacando, as bandeirolas de papel de seda colorido. Os dançarinos também adaptaram um espaço. Não quiseram saber de perder tempo. Mesmo sendo uma dança com passos tradicionais, é muito importante ensaiar, geralmente os ensaios começam em janeiro”, afirmou Cladeuci.
As janelas deixaram de ser uma simples entrada e saída de ar e um meio de iluminação natural. Passaram a ser os olhos para o mundo, uma forma de observar e refletir. Surgiu então o "São João Na Minha Janela", que veio para trazer alegria, em tempo de pandemia. Não se podia mais entrar pela porta da frente. As pessoas assistiram à festa das janelas de seus apartamentos e como ingresso, doavam alimentos para famílias que estavam passando dificuldades durante a pandemia. Logo, o Drive-in também virou palco para o arraiá, as lives no Instagram eram muito assistidas.
Aniversário diferente
Com 28 anos de história, a quadrilha "Si Bobear, A Gente Pimba", decidiu inovar, pensou naquelas pessoas que não tinham acesso às lives e também mereciam um pouco de diversão. A quadrilha desta vez se apresentou para as pessoas em situação de rua, no Setor Comercial Sul. Pessoas que agora estavam mais sozinhas do que nunca. A movimentação dos carros, o vai e vem de pessoas e o abre e fecha das lojas se transformaram em ruas silenciosas e quase vazias.
A noite ia aproximando e as pipocas já estavam estourando nas panelas, o quentão sem álcool, foi estrategicamente pensado para espantar o frio típico do mês de julho. O cheiro de galinhada percorria pelas vielas do Setor e parecia uma forma de convite paras as pessoas que ali passavam seus dias. Muita comida típica, álcool em gel e distanciamento. A alegria daquela noite foi garantida!
Cladeuci, nascido e criado em Brasília, tem a influência junina através de seus pais nordestinos. “Me mudei para Samambaia e não tinha luz, então acendia a fogueira e os vizinhos iam se agregando. Era o nosso São João. Nos primeiros anos, não deu certo, mas em 1992 começamos de verdade e nunca mais paramos. Nem na pandemia”.
O líder da quadrilha também confirmou sua saudade de um São João tradicional, com direito a abraço e muita aglomeração, mas sente que as apresentações tão diferenciadas de 2020 foram muito satisfatórias para ele e o público.
O São João tão diferente, mas inesquecível, foi encerrado em agosto, com uma live de despedida. A sensação de dever cumprido misturada com a esperança de que tudo volte ao seu novo normal, e que as quadrilhas possam espalhar seu colorido e alegria pelas festas juninas de 2021. "Esperando a chegada da vacina, sem ela não vai ser possível um São Joao como de 2019".
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