top of page

“Com 1 ou 2 folhas de papel, você faz cordel”, receita o artista; conheça Davi Mello

Por Anna Karolina Borges e Késia Alves


Foto: Ingrid Albuquerque

E, pensando bem, da mistura de um pai carioca com a mãe piauiense nasce um brasiliense. Davi Mello nasceu e cresceu influenciado pelas viagens da família e com a influência da mãe, professora de história. Depois de encantado pelas rimas de Sabiá e a luta do acarajé baiano contra um Big Mac americano, a ideia de fazer cordel foi semeada e Davi passou a se aprofundar no universo das rimas que contam histórias.


Do pouco que é ensinado na escola sobre a literatura cordelista, o brasiliense se aprofundou nas métricas e passou a ler mais cordéis. Até que em 2016 ele decidiu postar estrofes de seus próprios versos na internet. Dois anos depois, viajou para a região Cariri no Ceará a fim de se inspirar e fazer sua primeira publicação autoral. Passando pelas cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Nova Olinda, conheceu Hernane Tavares com quem passou a trabalhar junto na obra intitulada de Dois pensamentos no Cordel. O cordelista tem, ao todo, 7 obras, sendo 6 publicadas impressas, e uma online.


Durante um mês, os dois trocaram versos pelo WhatsApp. Cada um fazia uma parte desta arte. Assim contaram juntos a história de como se conheceram numa festa popular do Ceará, “lugar melhor não há”.


No dia de retornar para a capital federal, Hernane deu um incentivo ao cordelista brasiliense, imprimiu 50 cópias do cordel, ficou com a metade e lhe entregou as outras 25 cópias: “pronto, agora é só seguir”. E seguiu. Depois dessa viagem, Davi compôs três obras autorais por conta própria e outras por encomenda.


Foto: Webert da Cruz

Pouco se imagina de um cordel falando de Brasília, mas como o próprio autor da obra Festa dos Encantos do Cerrado diz, a inspiração para contar o quadradinho nos versos rimados vem da vivência. Que não é só sofrência.


A inspiração também sai de Brasília, ao conhecer o mestre Zé do Pife, Davi se inspirou para criar a obra Sereia Pifeira. Do caso da cobra Naja (ocorrido em 2020, em que um estudante de biologia traficou animais, incluindo o réptil), o cordelista fez em dois dias o Encontro da cobra Naja e do tubarão nas Terras do Cerrado, após a mãe lançar o desafio. O tubarão na vida real também foi encontrado em uma casa em Vicente Pires. As notícias de jornal inspiraram o artista com o que parece surreal.



A história não contada, nos versos é mostrada. Assim o cordelista expressa a riqueza de conteúdo que a literatura popular em verso, aos leitores, pode dar. Muita coisa que não se aprende na escola é levada ao público, como o Cangaço, Padre Cícero e histórias não oficiais que o povo conta. E Davi transforma em versos.


Inspiração para o cordelista é falar de outro artista, e no mundo da cultura quem o chamou foi Suassuna. Davi começou a se aprofundar na cultura popular no geral em 2011 após ler o livro Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta , de Ariano Suassuna. Hoje, aos 30 anos, além de trabalhar com o cordel, Davi é empreendedor da Pareia - Comunicação e Cultura e faz o trabalho de assessoria de imprensa, fotografia e audiovisual voltado principalmente para a cultura popular.


A pandemia pegou a classe artística de surpresa, e Davi precisou se readaptar. Das apresentações em eventos, o cordelista precisou transformar a banca presencial em virtual. Usando o Instagram como principal plataforma de divulgação, ele criou a sua logomarca e pretende ainda este ano iniciar as vendas de suas obras, pois na quarentena que ele produziu mais 3 obras . Do exemplo de uma citação de uma amiga também cordelista, ele diz que “o barco que flui com o rio também possui remos”.


Foto: Webert da Cruz

Sobre viver somente da renda de seus cordéis, Davi afirma: “não é fácil nem difícil, é o que é. É preciso se reinventar e buscar sua autonomia”, diz o autor. Ele tem projetos para quando a pandemia acabar. Davi quer lançar 2 cordéis que estão finalizados, mas deixa a curiosidade no ar: “fiz um sobre o Cerrado, sem nome ainda, pra matar a saudade que estou de entrar na mata. E um sobre o Forró, que com as bençãos divinas, será lançado nas Festas Juninas do ano que vem. Não revelo tudo ainda, mas só digo que é uma aventura espacial-forrozense”. Além dos lançamentos, ele deseja circular com a sua banca em diversos lugares. Viajar mais pelo Nordeste para conhecer ainda mais a fundo a cultura que tanto ama. Quer dar oficinas de cordel na capital e ensinar perspectivas dessa arte, da escrita à encenação, do improviso à tradição...



bottom of page