top of page

Chico Simões, o homem que controla o mamulengo

Bonequeiro cria personagens, histórias e garante que tem inspiração de sobra


Por: Bárbara Mendes e Madu Sampaio

Foto: mamulengopresepada.com.br



“Deixe meu boi vadiar”. Enquanto o violino produz a melodia animada, a frase é repetida pelo músico. Dançando, o mamulengo Benedito aparece com sua trouxa de roupa para cumprimentar aqueles que assistem à peça.


Durante o espetáculo, a personagem Benedito apresenta Seu Chico, o mamulengueiro Chico Simões que o controla ou é a personagem que controla o criador?.


-Boa noite, boa tarde, bom dia! Para quem não me conhece meu nome é Benedito… Acabei de chegar por aqui, vim fazer e acontecer, benzer, abençoar e bendizer o povo desse lugar. Viva! Viva eu! Viva tudo! Viva o Chico Barrigudo que tá aqui embaixo. Eu vou me apresentar aqui com meu boizinho estrela. Um boi mansinho, educado, ensinado, que é um bumba meu boi. Depois, vou sair por aí procurando onde se apresentar, procurando uma casa pra morar com Margarida, uma escola pro nosso filho, que vai nascer, estudar. Sou vaqueiro e vou me apresentar com meu boizinho estrela, um boi mansinho, educado, ensinado, que deixei pastando ali no mato.


Para chamar seu boi, Benedito começa a cantar uma música que descreve a difícil realidade de ser um vaqueiro nordestino no sertão.


“O vaqueiro nordestino vive sem um tostão. Seu trabalho é explorado pelo malvado patrão. Nada não, ouvirão seu cantar, meu irmão.”


Após a música, o bumba meu boi aparece. O boi estrela de Benedito, e o próprio boneco pede para agradecer aqueles que os assistiam. O boi solta pó pelo traseiro e desobedece ao dono. O público vai às gargalhadas.


Essa é a história da peça “O Boizinho Estrela” do companhia Mamulengo Presepada, que, em tempos de pandemia, foi publicada no site do grupo para entreter os que apreciam a arte mesmo quando não é possível que as apresentações sejam feitas presenciais.


Assunta bem (Prestar atenção em nordestinês):


Com uma mistura muito arretada, Seu Chico Simões, de 60 anos, nasceu em Brasília, no Núcleo Bandeirante, dois meses depois da inauguração da nova capital. Carrega nas suas veias o sangue paraibano e potiguar (Rio Grande do Norte), cresceu junto à capital, cidade futurística, que nunca seria capaz de abrigar a grandiosidade e talento do nordestino. Hoje, com muito conforto, toca seu grupo Mamulengo Presepada, e mora em Taguatinga-DF.


Origem


Com uma infância difícil, Seu Chico já tinha sido expulso do colégio que estudava, e para conseguir se sustentar, pensou muito e chegou a uma conclusão: honrar o sangue nordestino e o sonho de conhecer o Brasil e o mundo. Com isso em mente, iria entrar no teatro dos bonecos, ou dos mamulengos, para quem for mais íntimo; e foi assim, que sua busca para mudar de vida, começou.


Com muita segurança no falar, Chico confirma: “não importa onde ele vá, sempre vai ter um público com um oião (curiosidade) pelos bonecos que fazem festa no palco, não importa que seja em Brasília, São Paulo, Europa ou até mesmo na Índia”. O Brasil traz consigo a originalidade e a felicidade por onde passa, com sua cultura vasta, o teatro de bonecos marca presença. E com os olhos brilhando, o mamulengo afirma: "sempre pedem para eu participar, e voltar!”


O ômi (homem) é sincero. Ele diz que às vezes, passa “dias e horas, esperando a inspiração perfeita para a criação dos bonecos”. Mas apesar dessa dificuldade, ele afirma que sempre tem um estalo na sua mente. Precisa parar tudo o que está fazendo para colocar no papel as ideias criativas que passam por sua cabeça. Ele conta também, que não consegue forçar a criação de um personagem, precisa ser espontâneo.



Foto: mamulengopresepada.com.br


Mamulengos na pandemia


Seu Chico não ficou cabisbaixo e logo se reinventou. Aos 60 anos, Chico Simões teve a ideia: o pano que tapava os “maestros” que mexiam o mamulengo, virou pano de fundo para o cenário. Ele começou a gravar e colocar nas redes sociais. “Não é cinema, e sim filme de bonecos, porque o cinema é um lugar fechado, e o filme você pode assistir em qualquer lugar, qualquer ambiente, independentemente de onde seja. O grupo ainda está em adaptação, afinal, é um momento difícil para todas as pessoas do mundo”.


Depois da peste

No canal do Youtube: Boneco Brasileiro, o grupo Mamulengo Presepada filma de uma forma divertida, em primeiro plano, onde é possível observar, o mamulengueiro, o boneco e as mudanças de cena. Depois da pandemia, pretende manter seu canal no Youtube, e continuar manter vídeos, pois pode atingir pessoas de outros locais, e de outros países. Seu Chico gosta de se aventurar, e a internet permite isso de forma rápida.



Ele não desanima: "mesmo se uma pessoa de outro país não entender a nossa língua, a entonação e o gesto podem comunicar com eficiência", confia.

O maior objetivo dele é mostrar os mínimos detalhes às pessoas. “Você tem que fazer o tudo sem esquecer do detalhe, e fazer o detalhe, sem esquecer do tudo’’, afirma.


E se eu quiser fazer parte desse grupo? Oxe! Seu Chico diz: “Só chegar e responder que você está interessado e que quer aprender sobre”. É preciso ir em uma das 12 companhias, em qualquer horário e mostrar sua vontade, que de braços abertos, estarão te esperando. Tanto os atores, quanto os mamulengos.


bottom of page